sexta-feira, abril 25, 2008

VIVA O 25 DE ABRIL!

"AMANHÃ INVENTAREMOS O DIA CLARO"

-- afirmou o vereador do Bloco, Henrique Leal, na Sessão Solene da Assembleia Municipal, comemorativa do 25 de Abril. Transcrevemos na íntegra essa intervenção

"Trinta e quatro anos depois da mais bela epopeia da nossa história recente, eis-nos, uma vez mais, perante a crueza do exame. Para além da memória e da lembrança, comemorar Abril é sobretudo olhar o caminho percorrido e fazer o balanço. Comemorar Abril é também exaltar os valores que de Abril brotaram para iluminar o futuro que queremos construir.
Evocar hoje aqui essa torrente emancipadora é portanto ajuizar criticamente os objectivos que nos propusemos e nos comprometemos a cumprir.
Como canta Sérgio Godinho, viemos com o peso do passado e da semente e esperar tantos anos torna tudo mais urgente.
A revolução democrática trouxe-nos a liberdade.
Mas ...Só há liberdade a sério quando houver a paz o pão habitação saúde educação...
Com trinta e quatro anos de Abril como podemos dizer liberdade a sério? Temos paz? Poderemos conceber a paz e a segurança neste mundo permanentemente escoltado pela ameaça de terrorismos vários?
Neste mundo flagelado pelos conflitos étnicos e religiosos que há séculos martirizam populações indefesas nos Balcãs, no Médio Oriente, na África subsariana e no sueste asiático?
Podemos falar de paz e segurança quando vemos o grande irmão, o heterónimo do Tio Sam, a vasculhar os quatro cantos do mundo com a ponta das suas baionetas, a impor a hegemonia dos seus interesses económicos como critério para a afirmação dos seus interesses políticos?
Expressamos a nossa solidariedade para com o povo do Iraque, que, depois de sofrer uma ditadura, vê agora o seu país ocupado por forças estrangeiras e é vítima de um genocídio monstruoso que já vitimou mais um milhão de pessoas. No Iraque, desde o início da ocupação norte-americana e britânica, já foram lançados mais de 2500 toneladas de bombas e munições, com urânio empobrecido. Cancros e malformações congénitas aumentaram onze vezes no sul do Iraque e a contaminação radioactiva vai perdurar milhares de anos. O povo vive na miséria, sem água, alimentos e medicamentos, vítima inocente duma operação militar alicerçada na mentira e na avidez de petróleo.
E será que podemos falar de paz e segurança aos nossos concidadãos quando se torna cada vez mais perigoso sair à rua mesmo que se trate de parar naturalmente o automóvel num semáforo ou de um jovem a deslocar-se calmamente para a escola?
Que tempo é este que construímos para os nossos filhos?
Só há liberdade a sério quando houver pão ... habitação...Não tem parado de se avolumar o fosso entre os países ricos e os países pobres do Terceiro Mundo. Percebe-se porquê: as lógicas do crescimento económico globalizado têm agravado cada vez mais essa distância porque os rendimentos dos primeiros crescem à custa do valor acrescentado sobre o que produzem os segundos. Exportar camiões ou gasolina pronta a consumir é muito mais remuneratório do que exportar folhas de borracha ou mesmo barris de crude. Já parámos para reflectir sobre essas assimetrias no desenvolvimento económico mundial? Já olhámos bem para a massa crescente de populações migrantes que todos os dias nos bate à porta?
Mesmo nos países chamados ricos e desenvolvidos, já nos demos conta do que os políticos enfeudados ao neo-liberalismo selvagem, com a legislação laboral que têm configurado, contratos individuais, flexisegurança, precaridade.., tem estado a fazer ao nosso trabalho e à nossa dignidade? Aos níveis de desemprego que não param de crescer mesmo quando falaciosamente se procura distorcê-los? À existência de trabalhadores precários e a recibo verde. Em nome da dignidade, impõe-se-nos garantir trabalho digno aos milhares de desempregados, muitos deles jovens com elevadas habilitações, mas desprezados e lançados para empregos precários e sem futuro.
Há desemprego no Entroncamento? Há pobres no Entroncamento? Há fome no Entroncamento? Há habitação para todos no Entroncamento?
Só há liberdade a sério quando houver saúde....
Como é que está a saúde no nosso concelho? Como estamos de saúde no nosso país? Podemos dizer que vamos bem de saúde com um terço dos nossos concidadãos sem médico de família? Com as obras de ampliação do nosso Centro de Saúde inexplicavelmente proteladas, mau grado as promessas e os comprometimentos?
Podemos estar bem de saúde com maternidades e urgências a encerrar de norte a sul do país? Com serviços desclassificados e esvaziados, com recursos materiais e humanos reduzidos a meros números na voragem estrita do deve e haver?
Só há liberdade a sério quando houver educação...
Podemos dormir descansados sem saber o que vai acontecer aos nossos filhos amanhã na escola, tendo em conta a escalada de violência com que nos temos confrontado em crescendo? Haverá algum regulamento interno ou projecto educativo que contemple o uso de navalha de ponta e mola no interior de um recinto escolar?
Podemos sentir-nos confiantes num contexto de sistemático esvaziamento e desvalorização da escola pública e de ataque irracional aos seus agentes essenciais que são as professoras e os professores? Desautorizando-os perante um estatuto do aluno que é atentatório de direitos e deveres que deveriam ser intocáveis? Massacrando-os com um execrando sistema de avaliação do desempenho? É assim que o governo quer construir o sucesso educativo? Criando a ideia que o mal tem estado nos professores mas que agora os vai pôr na linha, vão ser avaliados, controlados, premiados e punidos...Desautorizando o trabalho docente, minando o esforço das professoras e dos professores, esgotando-os num horizonte vazio de esperança, decepando-lhes a auto-estima, corroendo-lhes a identidade profissional, desbaratando-lhes a alegria e o prazer de ensinar.?
Abril também passa por aqui. A liberdade também tem de passar por aqui. Quero acreditar.
Viemos com o peso do passado e da semente. Mas...esperar tantos anos torna tudo mais urgente.
É isso, é esta urgência de que Abril se cumpra na paz, no pão, na habitação, na saúde, na educação., que quero partilhar convosco.
E quero dizer-vos que todo o lodo há-de assentar e que amanhã inventaremos o dia claro.
25 de Abril sempre! Viva o 25 de Abril! Viva o Entroncamento! Viva Portugal!"

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